FEZ {F} — 2025

MOSTRE

antes de ver chegar a inevitável

mostre a vida

e seja mais sua

Manifesto

sobre criar com modelos generativos

I

A IA como espelho fragmentado

Modelos generativos não criam do nada. São espelhos — espelhos fragmentados de tudo que já foi feito, dito, cantado. Cada prompt é um ato de buscar a própria essência nesse caleidoscópio de possibilidades.

Quando dirijo palavras ao modelo, não estou apenas pedindo algo. Estou negociando com o latente space — esse território difuso onde padrões dormem, aguardando serem convocados pela especificidade do meu desejo artístico.

II

O processo como escavação

Criar com IA é escavar. Cada geração é uma camada de terra removida, revelando algo que estava ali — latente, comprimido em bilhões de parâmetros. Não é magia. É arqueologia do possível.

"A máquina responde ao que eu peço, mas só descubro o que realmente quero quando escuto o que ela oferece e digo: não, ainda não é isso."

Iteração não é correção de erro. É conversa. É dança. É o modelo me mostrando facetas que eu não sabia que buscava, e eu refinando o olhar até reconhecer: isso, isso aqui.

III

Teoria: a função do autor no generativo

Barthes disse que o autor morreu. Foucault disse que o autor é uma função. Na era dos modelos generativos, o autor retorna como curador-diretor.

Minha autoria está em:

  • Escolher entre milhares de possibilidades geradas
  • Direcionar com prompts que carregam minha poética
  • Reconhecer quando algo ressoa com a visão original
  • Compor a narrativa final a partir de fragmentos
  • Interromper quando a máquina quer continuar e eu digo: aqui, pare aqui

A IA não substitui. Ela amplifica a capacidade de exploração. Mas quem navega sou eu.

IV

A busca da essência no latente space

Existe algo profundamente alquímico em trabalhar com modelos generativos. Você não controla cada pixel, cada frequência. Você convoca.

É como trabalhar com fogo: você pode direcionar a chama, alimentá-la, soprá-la — mas a forma exata que ela toma tem vida própria. E nessa tensão entre direção e emergência, algo genuinamente novo pode surgir.

"Buscar dentro dos modelos generativos a nossa própria essência não é contraditório — é reconhecer que a essência nunca esteve 'dentro' de nós como algo puro e isolado. Sempre foi relacional. Sempre foi diálogo."

A IA é só o mais recente interlocutor. Antes dela, dialogávamos com instrumentos, com tinta, com pedra. Agora dialogamos com distribuições de probabilidade. A pergunta permanece a mesma: o que quero dizer?

V

MOSTRE: um caso de estudo

Esta música nasceu de uma conversa. Uma frase: "eu não sei chorar pra fora". Dor que não sai, que infiltra.

Peguei essa frase e a levei para o modelo. Disse: quero spoken word brasileiro, quero peso, quero silêncio entre as palavras. O modelo respondeu. Eu escutei. Disse: não, mais espaço. Menos preenchimento. A voz precisa respirar.

Foram vinte gerações. Não porque era "difícil" — mas porque eu estava descobrindo. Cada nova versão me mostrava um caminho. Às vezes eu seguia. Às vezes eu voltava. O processo era a obra se fazendo.

A letra mudou. Palavras foram riscadas, trocadas. "Sorte" virou "calma". "Morte" foi convocada mas nunca entregue — sempre interrompida por VIVA.

No final, a música não é "minha" nem "da IA". É o que emergiu do diálogo. É o que acontece quando você leva sua visão para dentro do latente space e deixa que ele responda — mas mantém a mão no leme.

VI

Ética da colaboração algorítmica

Trabalhar com IA exige honestidade. Não fingir que fiz tudo sozinho. Não fingir que a IA fez tudo sozinha.

Este site existe para mostrar. Mostrar os manuscritos. Mostrar as iterações. Mostrar os prompts. Mostrar o processo — não para provar esforço, mas para celebrar a jornada.

Porque a arte generativa não é sobre apertar botões. É sobre saber o que perguntar, reconhecer o que importa, e compor o resultado em algo que ressoe.

— FEZ {F}

AlquimiXGriot, 2025

RAPP RAPP: Rhythm-AI-Prompt & Poetry

Jornada

do insight à materialização

Insight

Uma conversa. Uma frase que surge no diálogo: "eu não sei chorar pra fora".

"eu não sei chorar pra fora"

A dor que não se manifesta externamente, mas infiltra, cresce, se alimenta do silêncio. Fungo que se alastra nas paredes úmidas do barraco.

Da conversa nasce a frase.
Da frase nasce a estrutura.
Da estrutura, a música.

Manuscrito

Escrita à mão. Rasuras. Palavras riscadas, substituídas. O pensamento visível, o processo exposto. "Sorte" → "calma". A morte convocada mas nunca entregue.

Manuscrito página 1 Manuscrito página 2

Diálogo com o Modelo

Levei a letra para o Suno. Pedi: spoken word brasileiro, minimalista, voz precisa respirar. O modelo respondeu. Escutei. Ajustei. Vinte vezes — não por obstáculo, mas por descoberta.

Suno AI 20+ gerações iteração como método

Refinamento

Cada geração revelava algo novo. Às vezes o beat competia com a voz. Às vezes o R soava americano. Eu ajustava: "R alveolar suave", "mais silêncio", "drop antes de 'Cólo'".

Mixagem

Exportei stems. Separei faixas com Moises. Levei para a DAW. O que o modelo não controlava, eu refinei manualmente. Equilíbrio entre deixar emergir e ajustar com precisão.

Cakewalk Moises BandLab

Materialização Visual

Prompt para a capa: metrô na chuva, roxo e amarelo, melancolia urbana, solidão contemplativa. A IA gerou. Eu reconheci: isso. Isso captura a atmosfera.

Laboratório

os prompts em linha de comando

Cada prompt é um comando. Cada geração é uma resposta. O diálogo acontece na interface entre intenção humana e distribuição de probabilidade.

prompt_01_base_inicial.txt suno AI
generate audio:
{ "style": [ "spoken word rap", "Brazilian urban poetry", "minimal beat", "voice-driven performance" ], "mood": "introspective, confrontational, raw", "tempo": "low, 70-85 BPM", "instrumentation": "sparse, percussive, organic", "vocal_direction": "intimate, close-mic, dramatic pauses" }
geração 1-5: base muito cheia, voz competindo
prompt_02_ajuste_espaco.txt iteração 6-12
refine audio with:
# Ajustes críticos: - MAIS silêncio entre as palavras - MENOS preenchimento instrumental - Voz precisa RESPIRAR - Beat minimalista, apenas o essencial - Remover camadas desnecessárias # Tags adicionais: "dramatic pauses", "minimalist bass", "experimental rap structure", "space between notes"
geração 8: começa a abrir espaço, mas R ainda americano
prompt_03_diccao_brasileira.txt iteração 13-16
adjust pronunciation:
vocal_accent: { language: "Portuguese (Brazilian)", r_sound: "alveolar tap [ɾ], NOT retroflex", reference: "São Paulo neutral accent", avoid: ["American R", "caipira R", "carioca R"], vowel_quality: "open, clear, not nasal" } # Direção específica: "Neutral Brazilian Portuguese accent, soft alveolar R, no retroflex R, clear open vowels, urban SP speech"
geração 14: pronúncia melhora significativamente
prompt_04_performance_viva.txt iteração 17-20
apply performance markers:
[verse] Eu nem sei chorar pra fora... [pre-chorus] Escolhe frio, duro Ou ser forte? [drop] # ← MOMENTO CRÍTICO É claro que espera Nessa poesia crua e porca Que a rima agora fosse… [FERMATA] [DRAMATIC_PAUSE] VIVA # ← quebra de expectativa [chorus] Viva Via a vida ser mais sua...
geração 18: VIVA em fermata funciona! momento perfeito
prompt_05_outro_colo.txt final
outro section directive:
[outro] Ninguém pra te dizer Corre Às vezes cê só quer [female_chorus] às vezes cê só quer Só quer [FULL_DROP] # ← beat e melodia param TOTALMENTE [OCTAVE_DOWN] # ← uma oitava abaixo [SPOKEN_DEEP] # ← falado, grave, acolhedor Cólo # Direção: voz grave, ressonante, final íntimo "Deep, warm, resonant vocal, intimate close-mic feel, spacious room reverb, one octave down from previous section"
geração 20: perfeito. o silêncio antes de "cólo" é exato
pseudocode_processo_completo.py meta
# Pseudocódigo do processo criativo def criar_com_ia(insight_humano, modelo_generativo): visao_artistica = insight_humano iteracao = 0 satisfeito = False while not satisfeito: iteracao += 1 # 1. Formular prompt baseado na visão atual prompt = articular_intencao(visao_artistica) # 2. Modelo responde output = modelo_generativo.generate(prompt) # 3. ESCUTAR - momento crítico escuta_profunda(output) # 4. Avaliar: ressoa com a visão? if ressoa_com_visao(output, visao_artistica): satisfeito = True return output else: # 5. Descobrir O QUE precisa mudar delta = identificar_diferenca(output, visao_artistica) # 6. Refinar a visão (processo descobre a si mesmo) visao_artistica = refinar_visao(visao_artistica, delta) # 7. Continuar o diálogo continue # Resultado: não é "meu" nem "da IA" # É o que EMERGIU do diálogo # No caso de MOSTRE: iteracoes_totais = 20+ momentos_de_descoberta = [ "geração 8: silêncio começa a aparecer", "geração 14: pronúncia brasileira funciona", "geração 18: VIVA em fermata - ISSO!", "geração 20: 'cólo' grave - perfeito" ]
prompt_visual_capa.txt AI image generation
generate image:
scene: "Cinematic urban night scene seen from inside a subway train" elements: [ "Raindrops sliding down the window", "Distorted city lights outside", "Purple and yellow lights reflecting through the glass", "Warm artificial lighting (inside) contrasting with cold fog and rain (outside)" ] mood: "Introspective, melancholic atmosphere" feeling: "The city feels distant and quiet" composition: "No people clearly visible, only reflections and silhouettes" aesthetics: [ "Emotional, contemplative mood", "Urban loneliness", "Rain ambience", "Soft focus, shallow depth of field", "Realistic textures", "Cinematic lighting" ] color_palette: { primary: "#b794f6", // purple glow secondary: "#fbbf24", // yellow warm ambient: ["#0f0f1a", "#1a1a2e"] // fog, rain }
resultado: capa captura perfeitamente a atmosfera

Nota sobre o processo: Cada prompt não é um comando isolado — é parte de uma conversa. O modelo responde, eu escuto, descubro o que falta, refino. Iteração não é correção de erro. É descoberta.

Essência

as direções, a letra, o núcleo poético

Direções ao Modelo

Visual (capa)

"Cinematic urban night scene seen from inside a subway train. Raindrops sliding down the window, distorted city lights outside. Purple and yellow lights reflecting through the glass, warm artificial lighting contrasting with cold fog and rain outside. Introspective, melancholic atmosphere. The city feels distant and quiet."

Estilo musical

spoken word rap slam poetry Brazilian urban poetry raw minimal beat voice-driven dramatic pauses dark atmospheric emotional intensity intimate

Performance

  • "VIVA" em fermata — quebra de expectativa
  • "Às vezes cê só quer" — cantado, melódico, íntimo
  • Drop total do beat antes de "Cólo"
  • "Cólo" — uma oitava abaixo, grave, acolhedor
  • R não retroflexo, pronúncia brasileira neutra

Letra

verse

Eu nem sei chorar pra fora

Barraco molha, infiltra e mófa

Fungo que cresce, se alimenta

Da dor seca, fria, fôsca

Igual colônia, ifa, doce

Casca da parede racha, mostra

Tijolo, massa e ferro, podre

A dor se equilibra, dança, gira

Anda, se exibe, fita

No fio da alegria, dita

Ritmo e poesia

Triste, grita

pre-chorus

Eu queria mais tempo pra ter

Acumulado ser, sido um sofredor

Dante, inferno sem temor

Cante, unidunitê

Escolhe frio, duro

Ou ser forte?

drop

É claro que espera

Nessa poesia crua e porca

Que a rima agora fosse…

VIVA

chorus

Viva

Via a vida ser mais sua

E menos do seu dono

bridge

Mostre

Antes de ver chegar a inevitável

Mostre a vida

E seja mais sua

Solto

Que não sabe dizer

Mostre

outro

Ninguém pra te dizer

Corre

Às vezes cê só quer

às vezes cê só quer

Só quer

Cólo

Artefatos

rastros do processo

Manuscrito 1
manuscrito — primeira página
Manuscrito 2
manuscrito — continuação

MOSTRE

faixa final — master

O processo é parte da obra.

A obra volta pro mundo.

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